Homenagem a Rosaura Braz, nossa amiga, ativista e pesquisadora do Transversões

            Rosaura Braz foi psicóloga e terapeuta de família, atuando na atenção psicossocial particularmente com familiares de pessoas com transtorno mental. Trabalhou conosco no Transversões desde o seu início, na década de 1990, como ativista e pesquisadora voluntária. No entanto, a marca principal de nossa amiga foi o ativismo junto ao movimento antimanicomial e principalmente com a organização e protagonismo dos usuários e familiares, desde o início do movimento de reforma psiquiátrica, ainda no final nas décadas de 1970 e 1980. Foi uma das principais ativistas da SOSINTRA, conhecida como a primeira associação de usuários e familiares em saúde mental do país, que atuava na cidade do Rio de Janeiro.



Rosaura Braz (3.a pessoa ao centro, da frente para trás) com outros membros do Transversões
           
            Contudo, todos os que conviveram com ela a admiravam pela sua generosidade e desprendimento no acolhimento dos usuários e familiares da saúde mental. Em especial, Rosaura nos chamou a atenção, desde o início de seu trabalho conosco, pela sua sensibilidade especial com as vivências e com o ponto de vista dos familiares. Ela nos ensinou muito neste campo, e é sem dúvida alguma a principal responsável pelo cuidado e foco sensível que procuramos dar às demandas, desafios e propostas de trabalho junto aos familiares, bem como em nossas pesquisas e publicações. Por exemplo, os grupos de ajuda e suporte mútuos em saúde mental têm claramente a marca dela, e ela acompanhava com muito carinho os grupos de familiares. 
            Infelizmente, nossa amiga foi acometida nos últimos anos por um câncer invasivo, que além de suas consequências diretas, lhe obrigava a sessões regulares de quimioterapia, que lhe provocavam muito desconforto. Infelizmente, ela nos deixou no dia 26 de maio de 2015. Sua enorme dignidade como pessoa humana e ativista não cabia mais na fragilidade de seu corpo, marcado pela dor e mal estar causado pela doença e pelo tratamento.
            Acima de tudo, quero expressar a nossa gratidão e o privilégio de termos conhecido e convivido com uma pessoa tão especial como ela, por tanto anos. Ela foi um exemplo de amizade, companheirismo e dedicação.
            Abaixo, por questão de espaço, escolhemos e inserimos apenas duas mensagens enviadas para a Rosaura e sua filha Dora, hoje com 17 anos, entre tantas outras tão carinhosas que recebemos para os rituais de despedida que realizamos. A primeira foi enviada pela também membro do Transversões, a Prof.a Lúcia do Santos Rosa, da Escola de Serviço Social da UFPI, em Teresina, que além de amiga pessoal de Rosaura, é hoje, sem dúvida alguma, a principal referência acadêmica no serviço social brasileiro na pesquisa e trabalho com familiares do campo da saúde mental. A segunda foi enviada pelo Círculo de Familiares Parceiros do Cuidado, ligados ao Núcleo de Políticas Públicas em Saúde Mental (NUPSAM), do IPUB-UFRJ, coordenado pelo Prof. Pedro Gabriel Delgado. Estas duas mensagens representam muito bem o reconhecimento à pessoa e ao trabalho de nossa amiga Rosaura, dentro do largo conjunto de manifestações que recebemos.

            Um abraço fraterno,

            Eduardo Vasconcelos

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Querida amiga Rosaura,

com um tremendo susto soube de sua partida no dia de hoje, que surpreendentemente é o dia do aniversário da minha mãe. Tudo de família nisso! Amiga irmã, para o que der e vier....sempre me acolheu, e que bom poder ter partilhado momentos singulares com voce: na sua casa, nas caminhadas com a Nina, nas atividades dos grupos de ajuda e suporte mutuo, no Rio, em Teresina, em Luis Correia e em Campinas. Tenho muito a agradecer a Deus por essa caminhada partilhada. Você plantou muitos frutos entre nós, e sua sensibilidade no dialogo e  no manejo com familiares ficará como seu maior legado para mim. Você até ventilou seu desejo de sair do Rio, até chegou a levantar a possibilidade de migrar pra Teresina....queria buscar novas terras, mas sua viagem agora é em outro plano. Mas, estará sempre em nossas memórias e nos nossos trabalhos com familiares. Siga em paz e com a certeza de que nos deixou um grande legado. Dora, lamento não poder  te abraçar e estar junto com você, presencialmente, neste momento. Estamos aqui em Teresina ou em Piracicaba como sua família extensa, pode contar.....O Julio manda um  abraço, muita força e sinta-se abraçada.

Lucia Rosa e família 


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Rio de Janeiro, 01 de junho de 2015

Caros companheiros,

Foi com grande pesar que recebemos a notícia da passagem de Rosaura Braz, neste dia 26 de maio de 2015.
Grande parceira do Projeto Familiares Parceiros do Cuidado, Rosaura deixa uma mensagem de luta, dedicação, e uma grande lição: é preciso tirar os familiares do armário. Ela reconheceu e trabalhou pela valorização dos cuidadores, trazendo algo de muito humano nessa relação. Esteve com eles em seus cotidianos, suas dores e suas vitórias. Mulher de luta e de fibra, sua militância foi diária. Seguiu mesmo doente, e deu tudo de si até o último momento.
Nós, do Círculo Familiares Parceiros do Cuidado, tomamos como compromisso levar adiante sua memória e o fruto de sua dedicação: familiares mais acolhidos, conscientes e valorizados. Seguiremos com a responsabilidade de transmitir um legado onde o cuidador é membro atuante, ativo e parceiro na luta e construção de uma saúde mental pública e de qualidade. O trabalho de Rosaura ensinou que o saber do familiar é fundamental nessa caminhada, e que só é possível ser parceiro quando todos os conhecimentos são valorizados e compartilhados.
Fica nosso agradecimento, por sua história de luta, seu carinho, sua dedicação e sua presença marcante na vida daqueles que a conheceram. Rosaura vive.

Círculo de Familiares Parceiros do Cuidado




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